Há cerca de uma semana recebi pelas 22h (a passagem de turno começa às 22h30) uma doente paliativa, já pré-agónica e sua família. Tinha vários doentes chegados do bloco (porque quando não há vagas nos outros pisos, o meu piso também recebe doentes cirúrgicos), tudo por acabar. Instalei a doente na cama confortavelmente, aconcheguei-a, avaliei parâmetros vitais, troquei-lhe a fralda e deixei-a sossegada. Falei por breves minutos com a família (o esposo e dois filhos), dei-lhes breves informações sobre o funcionamento do serviço, forneci-lhes o contacto telefónico, fiquei com os respectivos contactos telefónicos, dei-lhes algumas palavras de conforto e deixei-os irem desejar boa noite à familiar e continuei no meu ritmo louco.
Hoje uma colega aborda-me a perguntar-me se tinha sido eu a dar entrada à Sra F. Confirmei. O que tinha então a minha colega para me dizer é que o esposo da doente tinha andado à minha procura para me agradecer a forma como os tinha recebido no 1º dia porque tinha sido directa, prestável e assertiva.
Confesso que não dei metade da atenção que deveria ter dado a esta doente/família; não fiz o acolhimento tal como preconizado. Mas mesmo assim agradeceram-me e isso valeu-me o dia, aliás, valeu-me por muitos dias.
Acabei por ir ter ao quarto agradecer-lhe as palavras e o Sr confessa-me que já tinha perguntado por mim várias vezes só que lhe tinham dito que eu ia lá fazer turnos poucas vezes.
Ainda bem que com o pouco tempo que tive, tive o discernimento de escolher as palavras mais acertadas.
Bem haja a esta família que num dia de sofrimento têm um momento do seu tempo para confortar o outro.
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