Hoje foi um dia difícil, doloroso até.
Em 2 horas morreram 3 doentes.
Quando às 14:30 nos sentamos para almoçar, nenhuma das 5 enfermeiras presentes sorria, ou queria falar. Comeu-se em silêncio.
Saí do serviço incomodada, com uma dor terrível na alma por saber que por mais doentes que as pessoas estejam, por mais perto da morte que estejam, uma morte é sempre uma morte.
Morreu-me uma doente nas mãos, quase no meu colo, que minutos antes estava numa maca de transporte para ser transportada para uma Unidade de Cuidados Paliativos, que minutos antes quando lhe trocava a roupa agarrava com as poucas forças que tinha a camisa que eu lhe tentava tirar e me olhava nos olhos aterrorizada. Não pude deixá-la ir, empatei ao máximo porque percebi que aquele olhar me pedia para não a deixar ir... Empatei e a doente foi morrendo, transferi-a para a cama e quase que no meu abraço respirou uma última vez.
Tive a minha avó todo o dia no hospital para despistar um AVC, a 500km de mim, sem eu poder enfurecer-me com alguém.
Saí do serviço e não consegui ir para casa.
Vagueei de carro por onde últimamente o meu espírito e o meu corpo se sentem atraídos... Colares. Fiquei-me por aí, fotografei, saí do carro e deixei que o vento me levasse a dor.
Não há serenidade num dia destes. Por isto detesto quando as pessoas me dizem "já está tão habituada que já nem liga". Mentira! Não nos habituamos a ver pessoas a morrer, não nos habituamos ao sofrimento, não nos habituamos a corpos e almas desfeitos! Nunca! Eu nunca!
3 comentários:
O dia em que um ser humano ficar à indiferente à morte de outro, significa que perdeu o resto de humanidade que tinha.
Li o teu post com muita atenção e fiquei muito sensibilizada.
Percebi que és uma enfermeira que ama o que faz, só assim se compreende que te envolvas tanto com as situações que te aparecem, e nunca te habitues. Sorte para a tua profissão e beijinhos.
Obrigada pelos vossos comentários cheios de carinho. Efectivamente amo o que faço e chega-me um sorriso de um doente para fazer esquecer tudo o resto.
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